'Vamos lá fazer o que será"

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quarta-feira, 25 de junho de 2014

MARIPOSA APAIXONADA DE GUADALUPE E OS DOIS PASSOS DO PARAÍSO - Irma Galhardo



Mariposa Apaixonada de Guadalupe e os dois passos do paraíso*

Aos 13 anos extraímos poesia de tudo. Eu ouvia a música “a dois passos do paraíso” da Banda Blitz, morava então, em minha amada Correntina-BA, estava com amigos. Inspirada no amor ali descrito e em uma observação sobre a cidadezinha lá dos “cafundós do Goiás”, transportei-me em pensamentos para o lugar, digno de ser cantado pela banda da moda e que em meu íntimo parecia ficção.
Anos depois fui morar em Miracema, que não era mais do Norte, tampouco de Goiás. Ela havia passado de ”pequena e pacata cidade” para a primeira capital do estado do Tocantins, antes da fundação de Palmas. Ostentava essa fama, além da outra, que a Mariposa conseguiu com a carta.
A Mariposa Apaixonada, descobri em seguida, era a dona de uma banca de mascate, em frente a minha casa. Ao lado, no mercado, ficava o armazém do seu ex-noivo, o “caminhoneiro conhecido da pequena e pacata cidade”. Ele, apesar de ser ainda proprietário de caminhão, não era mais condutor, virara patrão, um comerciante próspero. Ela, desapaixonada, não lembrava uma mariposa. Cansada de esperar, voara em outra direção. O paraíso, que estava apenas a dois passos, continuava lá, embora modificado: é a cidade de Paraíso do Tocantins. Os dois passos são duas outras cidades menores, próximas o bastante para serem consideradas a um passo dali. Somadas, correspondem exatamente aos dois passos: Miranorte e Barrolândia.

Quando o rádio tocou a mesma canção, três décadas depois, constatei que o cafundó virou centro de um novo estado e que a vida, minha e dos amigos daquele dia, haviam sido radicalmente transformadas pela ação natural do tempo. Do passado, apenas a música era igual. Muitos foram os sonhos embalados por aquele hit, algumas mulheres até se apoderaram do “singelo pseudônimo”, no entanto, o sentimento eternizado na canção, como quase tudo, se transformara. O sumiço tão cantado, contribuiu para diluir o amor. Da minha janela eu via a Mariposa e o ex-caminhoneiro, cada um em sua lida, indiferentes ao que o mundo esperou deles. Eu não encontrava poesia ali, eles não se amavam mais. Apesar de uma geração inteira ter cantarolado aquela paixão e o Paraíso continuar a dois passos dali, eles não foram felizes para sempre, juntos!




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