'Vamos lá fazer o que será"

'Vamos lá fazer o que será"

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Cordel da III Semana de Cultura da UFPB - Irma Galhardo

                         Cordel da III Semana de Cultura da UFPB


Estou aqui pra falar
De Intercâmbio Cultural
Da Semana de Cultura
Que acontece em João Pessoa
Na Universidade Federal

Um Projeto relevante
Que muita coisa incorpora
E mostra ao jovem estudante
Cultura daqui e de fora

Para sua coordenadora
Jô Mendonça Alcoforado
deixo aqui o meu abraço
É brilhante, assertiva
A bela iniciativa

Temos também o prazer
De poder participar
De mais uma antologia
Que o projeto vem lançar
Sim, “Nós somos Brasileiros”
E com imensa alegria
Levaremos ao mudo inteiro
Essa nova antologia
Nela minha participação
É uma crônica interessante
Tem história e vivências
Daqui e de terra distante
Relato de experiência
Com título de samba-canção
“Eu comi mangostão
A rainha Victória não!”

Eu venho do Tocantins
Terra de amor e magia
E carrego outros valores
Pois sou  tocantinense
Que nasceu lá na Bahia

Escrevo livros de lendas
Com história e alegoria
Faço versos com riquezas
Da cultura brasileira
Utilizo pesquisa e poesia

Vou falar de experiências
Com meus livros por aí
Como expus no Salão de Genebra
Com participação oficial
Tudo com muito louvor
Presença até de embaixador
e de gente lá no Nepal

De como encantei as crianças
Que nem meu idioma sabia
Provando mais uma vez
Que não existe barreiras
Onde reina a poesia

Estive também em Berlim
Capital da Alemanha
Terra dos Irmãos Grimm
De história e façanha
Lá ao som do clarim
Lancei meu” RitxoKo”
E o povo aprovou
Até o Conselho de Cidadãos
Estendeu as suas mãos

Por fim segui pra Inglaterra
Para Londres, onde já morei
Aí também a Embaixada
Foi lugar que procurei
Efetuei doações
Estabeleci conexões
Semeando muitos livros
Por onde passei e gostei

Vou querer falar poemas
nessa alegre reunião
com gente de várias idades
prestando muita atenção
e juntos vamos fazer
esse encontro merecer
ir para a lista de coisas
de guardar no coração!

No início o singular prazer
 De ouvir a Belle Soares
A musicista com o dom de fazer
O som ecoar pelos ares

A Senhora Reitora presente
Margareth Formiga Diniz
E toda essa bonita gente
Que engrandece o meu país
Os pró-reitores Orlando Vilar
E o Senhor Thompson de Oliveira
Todos erguendo a bandeira
Elevando a cultura Brasileira

COAPE e seus coordenadores
Arnaldo Medeiros e Bernardina Carvalho
Parabéns pelo sério trabalho
E para rimar vai cores
“As cores e vozes do Brasil”
Exposição de artes plásticas
Vale ver, quem já não viu

Senhor Domingos Pascoal
É o bardo oficial
Vai falar com maestria
É membro de academia
Quer saber o que vai ser?
“A mudança começa em você”

Protágoras, filósofo sofista
Resumiu o que quero dizer:
“O homem é a medida de tudo”
Ou, o limite de seu tudo é você
Multipluralidade e interculturalidade
Revelam a grande verdade:
A essência humana é igual, pude ver!

Falei de tudo um pouco
Pra não pecar na  palestra
Pois minha memória, coitada!
Já não é mais muito destra

Então finalizo o cordel
Desejando a todos aqui
muita luz, amor e harmonia
Que seja tudo como você queria
Que haja um melhor amanhã
E que a vida não seja vã!









O Cordel do Boca do Céu - Irma Galhardo

O meu Cordel é uma literatura popular onde apenas a rima e a musicalidade importam. Não obedeço a tirania de contar versos, portanto, não os faço octossílabo nem hendecassílabo, apenas os faço, seguindo meu coração!


Cordel do Boca do Céu

Boca do Céu é magia
Coisa linda de se ver
Tem história, teoria
Muita troca de saber

 Tudo no Boca do Céu
Exala arte e poesia
As pessoas, o local
Como é boa a energia!

 Desde o colar de fuxico
Até as bacias com flores
Paira uma certa harmonia
Resgate de muitos valores

Vem gente de todo lugar
Cada um com sua cultura
Muitos internacionais
Preciosidade pura!

O nome de todos eles
Não vou conseguir citar
Pois são tantos idiomas
Não pude memorizar

Mas todos são muito bons
Cada um com seu legado
Histórias do arco da velha
Tradição de cada estado

Do Maranhão o Boi Bumbá
a Bahia Iemanjá
De Minas o Zé Maria
Famoso famigerado
Também veio dar  recado

Até mesmo o Tocantins
Novo estado tão além
Correu pra participar
Com histórias de luar
E de muito querer bem

Giba e o parceiro Federal
Roupas novas de rei genial
Mamede e a Sherazade salva
As Rutes com Roberta Estrela D’alva

E a Regina Machado
Querendo nos dar um tesouro
Nos trouxe o grande achado:
A maravilhosa ORO!

Trouxe ainda a Zarcate
E outros bons igualmente
Muita tradição e arte
Gente que engrandece a gente

 Laura Simms que levou esperança
No Haiti para adulto e crianças
A performance  com sombrinhas da Letícia
Histórias de pessoas da Galícia

O Cordel de Josy Maria
O Peruano com sua alegria
Sempre fazendo fotografia
Ludovic, Éric, Hassane e João
Causos de tocar o coração!

A Simone com o seu Grande encanto
Lindas Meninas do Conto
A Fernanda Ribeiro
Simpatia o tempo inteiro!

 Radamés, Lídia e Lívia
Vivian e a doce Diana
Histórias tão diferentes
Que bem fascinam as mentes
E um tom de magia emana!

 Heliana Castro Alves
Com seu nome de poeta
A Coracy tão espontânea
A Ângela que bem engana
Todas tendo por meta
A história que apaixona

 Valdete e seu João Jiló
Sofrido de dar até dó
Andréia e sua Toinha
De vestido de florzinha
Josias que bem traduz
A Zarcate dando luz

Até as crianças da OCA
Todos numa grande ciranda
Tornando o mundo feliz
Como a pequena Elis!

 E a querida Renata
Deixando tudo registrado
Como contadora nata
Num blog incrementado

Depois de tanta alegria
Aguardo ansiosa o dia
De tudo recomeçar
Vou atrás de cada história
Sentar e saborear a glória
De ouvir Sherazade contar

O tamborim da cantiga
Dá dica e instiga
Me convidando por fim
Respondo num ai ,ai, ai
Que se depender de mim
Sempre, no Boca do Céu
“Para o ano eu voltarei, tamborim”

Agora só resta insistir
Pra Regina repetir
O evento anualmente
Pois não pode demorar
Algo tão espetacular
Que encanta tanta gente!

Então hei de esperar
Para sentar com vocês
E juntos poder ouvir
Mais uma vez, era uma vez!




Traquinagem - Irma Galhardo

TRAQUINAGEM


Desce daí menino
Deixa de desatino
Quer voar qual passarim
Parece camaleão
Cuidado meu querubim!
Gente mora é no chão!



Você vive nessa árvore
Imitando os bichos todos
Vira até estátua de mármore
Ou arte de visigodos



Vem para um lugar tranquilo
Sem riscos, nem escuridão
Vem meu menino traquino
Chega de ser capitão
Aqui nada vai atingi-lo
Me abrace apertado
Vem para o meu coração!



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Santa Luzia Barroca de Porto Alegre do Tocantins - Irma Galhardo

                               Santa Luzia Barroca de Porto Alegre do Tocantins

Mãe Raimunda já desencantou, no linguajar dos moradores da graciosa cidade de Porto Alegre do Tocantins. Enquanto viveu, porém, encantou a todos com suas histórias e cuidados com a Santinha. A Santa, ninguém mais sabe como chegou ali. Talvez, por milagre, como contam. Talvez, por herança de algum escravo devoto, que utilizou sua destreza com o cinzel para dar formas ao pequeno pedaço de madeira, exprimindo assim sua religiosidade ou seu veio artístico. Agora, a arte sacra faz parte do acervo religioso da igreja matriz, que fica no meio da praça, no centro da cidade, cuidadosamente guardada pelo olhar do Senhor Marcionílio.
Seu Marcionílio, homem íntegro, temente e com uma história de vida preenchida pelo trabalho voluntário, nos passa sensação de familiaridade. É como se já o houvéssemos encontrado em alguma página dos Irmãos Grimm, cometendo bondades e semeando encantos. Talvez tenha aprendido diretamente com Mãe Raimunda, pois sendo órfão desde sempre, encontrou nela a resposta às suas necessidades de afeto, de procura maternal. Mãe Raimunda estava ali e, dentre outros predicados, era exímia contadora de causos!
Por ele fique sabendo que na época das impunidades, mãe Raimunda costumava fugir dos invasores, levando ao seio a pequena santinha. Se apegava a ela e só a largava quando conseguiam a graça de voltarem em segurança. Foi assim também quando aconteceu o episódio do Duro* e o horror se espalhou na região. Não fosse Mãe Raimunda e sua providencial capacidade de esgueirar por caminhos impensados, não teríamos essa relíquia.
Porto Alegre do Tocantins é uma cidade bem original. No meio da praça há alguns túmulos, dos seus fundadores e familiares. Fica ainda o busto de um antigo prefeito e um mastro, bem grande, todo enfeitado de fitas coloridas. Tanto o mastro é herança de Mãe Raimunda como a tradição de comemorar os festejos de Santa Luzia. Passei por lá em dezembro. O mastro embora estivesse arrancado, deitado no chão, ostentava ainda as fitas que o enfeitavam e contribuía, com seu enorme tamanho, para imprimir um ar de surrealismo à cena.
Surreal também é o Conjorinho, personagem lendário de lá. Os moradores contam que o Conjurinho gosta de aparecer para quem não faz o bem. Ele se manifesta através do barulho de ossos, como se alguém arrastasse um saco com ossadas, e segundo eles, é um som aterrorizante! O Conjurinho costuma se arrastar até a pessoa se redimir e oferecer muitas orações.
Sobressaindo a tudo, está a antiga casa da saudosa Mãe Raimunda. Última palhoça, ao lado da praça, resistindo ao progresso e contrastando com casas modernas feitas de tijolos. É uma casa de sapé e não uma casinha simplesmente.  É grande como era o coração da dona. Foi construída exatamente para abrigar muitos, servir de porto seguro para desafortunados que cruzassem aquele caminho.
O corpo de mãe Raimunda não está na praça pública, como os dos fundadores que ali tem seus túmulos. No entanto, ela continua viva no imaginário daquelas pessoas, muito mais que os homenageados com morada eterna na praça. Falaram-me foi sobre ela quando perguntei a respeito dos túmulos, seu nome foi evocado em todas as ocasiões. Durante o tempo que lá fiquei, ouvi-o desde o início até o último momento. Ela está tão presente ali, como a santinha barroca que ajudou a proteger ou como a tradição dos festejos que ajudou a perpetuar. Seu amor fincou fortes raízes que farão com que sua memória seja preservada e que seja venerada, como uma santa: Santa Raimunda de Porto Alegre do Tocantins.

·          * Referencia a um fato histórico ocorrido no início do século XX  na cidade de Dianópolis, situada a poucos quilômetros de  Porto Alegre do Tocantins, onde nove cidadãos de uma mesma família foram massacrados em praça pública e o medo se espalhou na região. O episódio está registrado no livro “O Tronco” de Bernardo Élis.








A Lenda da Buiúna - Irma Galhardo

A Buiúna

Tocantínia fica bem ali, encostada na serra do Lajeado.
Cidadezinha pequena com habitantes de boa prosa, um riozinho e um riozão banhando suas histórias. Casinhas de sapé ainda existem por lá, assim como índio Xerente, gente da gente.
Um certo dia, o sol amanheceu brilhando mais forte. Os moradores, distraídos, transformavam suas vidas em poesia.
De repente começou um som de chuva e todos estranharam, pois não era época de chover. O barulho continuou em direção ao rio grande, enquanto gotas de água respingavam por toda parte. O rio, chamado Tocantins, imenso e largo a perder de vista, estava logo ali, banhando a cidade inteira. Foi para lá que as pessoas se dirigiram, apressadamente, atraídas pelo barulho ensurdecedor e pelos pingos que não paravam de cair.
Ao chegarem à margem, mal puderam acreditar no que seus olhos viram: uma cobra imensa, gigante, a maior que alguém já conseguiu imaginar! Ela estava atravessada naquele rio e seu corpo descomunal fazia uma barragem, que escoava depois, criando uma enorme cachoeira. Essa grande cachoeira aspergia por toda cidade, causando o barulho que fizera  aquela gente mover-se até ali.
Puderam ver, então, a Buiúna, se entediar com os olhares curiosos e partir, esticando seu corpo, mostrando metade do seu verdadeiro tamanho: cem vezes maior que uma sucuri! Tão imponente, como o rio, que abria seu leito caudaloso para que ela se agasalhasse ao passar, tão volumosa como a imensidão das águas tocantinenses!
Todos que estiveram lá naquele dia, garantem não terem conseguido saber ao certo o comprimento verdadeiro do monstro: quando sua cabeça desapareceu no horizonte, sua barriga ainda estava na curva do rio. Esperaram até tarde da noite e, como o corpo da cobra não acabou de passar, não puderam ver o rabo. Cansados de esperar foram dormir, sem poderem avaliar o real  tamanho da Buiúna.

No dia seguinte, acordaram pensando que tudo não tivesse passado de um sonho, devido
  ao absurdo do fato. Porém, ao se dirigirem novamente às margens do rio, avistaram ao longe, uma monstruosa cauda que aos poucos foi desaparecendo. Não sem antes molhar toda lavoura e saciar a terra sedenta de agosto.