'Vamos lá fazer o que será"

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domingo, 17 de novembro de 2013

EU COMI MANGOSTÃO, A RAINHA VICTÓRIA NÃO! - Irma Galhardo


                         EU COMI MANGOSTÃO, A RAINHA VICTÓRIA NÃO!

                                                                 
 
  Há pelo menos vinte anos que li uma matéria curiosa sobre o Mangostão, fruta originária da Ásia e desejada enormemente pela rainha Victoria, que morreu sem experimentar seu delicioso sabor. A Rainha, muito poderosa e que tinha tudo aos seus pés no seu imperioso reino, ordenava aos súditos que fossem em busca da tão sonhada fruta, porém, apesar de utilizarem  todos os recursos da época, ninguém conseguiu satisfazer  seu desejo. A  fruta perecia durante a longa viagem, já que naquele tempo não haviam inventado ainda os refrigeradores.

Quando li isso fiquei imaginando como seria tal fruta, o que havia de tão especial para que uma rainha que teve tudo, a desejasse tanto. Sim, porque essa rainha, que reinou desde os dezoito anos de idade e viveu uma história de amor, um verdadeiro “Conto de fadas” com seu querido Alberto, teve tantos filhos quanto desejou, 9! (sem nunca ter que lavar fraldas nem bumbum  de bebê). E teve um dos mais opulentos reinados, marco de uma era, a Era Vitoriana. Ostentou  uma coroa feita sob medida contendo 2.800 diamantes e um cetro com uma cruz que trazia o maior diamante lapidado do mundo, o grande "Estrela da África". Foi dona de uma renda de 385.000 libras por ano e todas as propriedades reais dos Lancaster e Cornualha. Ainda assim gastou parte dos seus 63 anos de reinado, na infrutífera busca pelo mangostão!
O que fazia com que essa  fruta fosse tão especial para receber a alcunha de “Rainha das frutas” , “Manjar dos deuses” e ser  tão desejada pela “Avó da Europa”?
Por mais de vinte anos  meu marido e eu cultivamos uma brincadeira ao falar de algo muito delicioso, costumamos dizer que tem  gosto de mangostão, mesmo sem  conhecer  tal sabor. Pois bem, estava eu, minha enteada e seu amigo grego andando numa tarde de pouco sol pelas ruas da cidade chinesa, no centro de Londres, quando me deparo com uma plaquinha, numa banca de frutas, onde estava escrito mangostan .

Não acreditei! Então finalmente eu iria conhecer o mangostão! Interrompi  conversa e caminhada, peguei a bandejinha com as frutas e, aproveitando que estava em terras da rainha, contei para Lorena a historia do desejo real irrealizado e da minha brincadeira com seu pai. Compramos uma bandejinha com seis frutos: Eram do tamanho de ameixa, coloração mais clara, rajados amarelados e casca grossa, com fruto branco, polpa mole, suculenta, de uma acidez suave e sabor maravilhoso!  Dividimos, dois para cada um. E ali, ironicamente, na terra da rainha que morreu sem conhecer o mangostão, eu comi, não apenas um, mas dois! Dois mangostões inteiros! Então de olhos fechados, impregnada de tanta realeza, feliz da vida depois de tão agradável e instrutivo passeio, dediquei minha boa energia produzida com a degustação da lendária fruta, àquela que soube reinar e amar como poucos. Foi ela que inaugurou a primeira linha de metrô do mundo, embora tenha sido exatamente a distância que a impediu de experimentar a exótica delicadeza do mangostão!

(crônica publicada na Antologia NÓS SOMOS BRASILEIROS, foto abaixo)


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